Explicando as fotos das sombras


Muitas das pessoas que acusam a NASA de fraudar as viagens à Lua não têm conhecimentos científicos sólidos. Ou elas são totalmente leigas, ou lhes falta base dentro desse assunto específico. Posso dar um exemplo concreto. Certa vez eu li um artigo de um jornalista que provava a fraude da NASA com uma foto, na qual o solo lunar estava claro mas o céu escuro. Ele "raciocinava" mais ou menos assim: "Se o chão está claro, é dia. Então, como pode o céu estar escuro como se fosse noite? É fraude!" Se mais alguém além dele não sabe, a falta de atmosfera na Lua faz o céu ficar sempre negro e estrelado, mesmo com o Sol visível. Mas quem sabe disso diz que a foto foi fraudada porque as estrelas não aparecem. Estes ignoram a dificuldade de se captar o solo muito luminoso e as estrelas tênues numa mesma chapa.

Há um aspecto muito sério no caso do jornalista, que merece uma atenção especial. Eu até aceito que, por falta de cultura geral, ele desconheça o fato de o céu ser sempre negro na Lua, seja noite ou dia, mas é de espantar que ele pense que cientistas altamente qualificados pudessem ser tão estúpidos a ponto de colocar um céu na foto com uma cor praticamente oposta àquela que ele deveria ter. Além disso, fazer uma foto aqui na Terra com céu negro durante o dia, mais do que difícil, seria de objetivo incompreensível, caso o céu lunar diurno fosse claro. Foi um descuido no estúdio, então? Cientista é meio bobo e distraído, não é? Francamente, é de doer. E o pior é que essa deseducação foi à mídia, para muita gente ler. É o triste resultado, quando pessoas despreparadas opinam sobre assuntos que estão além de sua capacidade mental.

Da mesma maneira como o ladrão sempre acha que vão roubá-lo e como o mentiroso não acredita em ninguém, num fenômeno psicológico bem conhecido, os leigos acham que os cientistas têm o mesmo nível intelectual deles. Por isso pensam que podem descobrir os truques que os técnicos da NASA usaram para tapear o mundo. Mas, para isso, usam a sua própria mente simples e supõem que as fotos autênticas sejam não apenas falsificações, mas falsificações fajutas, de péssima qualidade, exatamente como seriam se forjadas por um leigo. Eles não percebem que, se fosse para fazer falsificações, aqueles especialistas jamais iriam produzir fotos e filmes com absurdos científicos tão evidentes que pudessem ser descobertos por qualquer palerma.

Uma das melhores provas das viagens é o foguete Saturno V. Todos viram aquele monstro de três mil toneladas levantar do chão para colocar sua carga útil em órbita, completando, no meu modo de ver, 99 por cento da missão. A turma só não acredita no 1 por cento restante. Se você visitar o site da NASA, vai ver que os motores do primeiro estágio eram cinco, bem maiores que os dos outros. O terceiro e último estágio tinha apenas um motor menor. Foi ele que lançou a nave da órbita terrestre até a Lua, com um disparo de poucos minutos. Não nego as dificuldades técnicas, imensas como o perigo implícito, mas quem diz que os astronautas não foram até lá está influenciado pelo fato de que tal realização é fantástica demais. Certamente ela é, mas nós o fizemos e vamos fazer novamente, com mais freqüência, quando a estupidez der lugar ao bom senso e todas as nações entenderem que somos parceiros na construção e na manutenção da Terra, porque ela não é eterna no que diz respeito ao que existe hoje. A conquista do espaço deve ser de toda a Humanidade, porque vamos precisar sair daqui no futuro.

São muitas as acusações que vi. Já li sobre a bandeira que balança, a poeira que não flutua no "ar", o pé da nave que não afunda no solo, as marquinhas da telemetria que ficam atrás da cena fotografada, as sombras de tamanhos diferentes e não paralelas, a dúvida sobre quem filmou o Neil Armstrong descendo a escada pela primeira vez, a radiação cósmica letal, etc. Mesmo não sendo um especialista, eu tenho minhas respostas para isso. No caso das sombras, fiz o teste com aqueles toquinhos de madeira para mostrar como podemos nos enganar facilmente quando usamos apenas as emoções. Refiro-me a estas porque a turma da acusação costuma acreditar cegamente nas teorias de conspirações, de uma forma alucinada. Algumas podem até ter um fundo de verdade, mas no caso das viagens à Lua eu ainda não vi nada que me parecesse estranho.

Faço muitas palestras em escolas. Quando as crianças me perguntam sobre tudo isso, eu costumo falar que o Projeto Apollo tinha uma equipe de 400 mil pessoas. Então eu digo que o diretor da NASA juntou todos em uma sala e lançou a proposta de fraudar as viagens à Lua, obtendo apoio unânime. Nenhum idealista se manifestou. Ninguém se incomodou por trabalhar com um propósito inútil nem por jogar vários anos de sua vida fora. Ninguém se importou por mentir. Ninguém ligou para o fato de que bilhões de dólares seriam roubados do povo para fazer alguns filmes e fotos horríveis, cheios de erros científicos primários. Ninguém contou para amigos ou familiares nem foi denunciar toda a patifaria na mídia. Para mim, estas afirmações é que são muito estranhas. Portanto, podem esquecer essa bobagem e tomar cuidado para não ficarem para trás na marcha da civilização, porque as pessoas que trabalharam naquele grandioso projeto foram muito competentes. Se nós nem pudermos acreditar no que elas fizeram, é porque estamos nos distanciando delas rapidamente, em direção a uma categoria intelectualmente inferior, como uma outra espécie, feita apenas para a produção dos bens de consumo, que não pensa nem questiona, incapaz de compreender a Ciência e que pode até mesmo chegar a perder o direito à ela, aceitando tudo com muita naturalidade. Isto é que deveria estar nos incomodando.

Vamos deixar esse "admirável mundo novo" para depois, porque você chegou até esta página para saber como fiz as fotos dos toquinhos. Deu trabalho, mas qualquer um pode fazer o mesmo. Vejamos:

A primeira foto é normal. Não há truques. Uma elevação do solo encurta a sombra de um dos astronautas, enquanto uma depressão alonga a sombra do outro. Na segunda foto eu escondi a sombra de um dos astronautas numa cratera que eu cavei. Se você olhar com atenção, dá para perceber uma diferença na tonalidade do solo, indicando a depressão. Em cada uma das duas últimas fotos, uma das sombras está escondida numa cratera. A sombra maior, que vai até a margem da foto, pertence a um objeto exterior à cena fotografada. Veja aqui como fiz a terceira. Tive vários problemas com a quarta foto, porque a sombra da vassoura (externa) se projetava sobre um dos toquinhos e denunciava a trama. Eu fui obrigado a fotografar em direção ao Sol, numa posição incômoda, para escondê-la, mas ainda dá para notar uma pequena parte dela na foto. Pior ainda foram as sombras que mudavam de posição, as folhas que caíam, o vento que espalhava a areia e as nuvens que de vez em quando encobriam o Sol, sem falar no Bidão, que colocou um astronauta extra em cena numa hora imprópria.

Enfim, tudo pela Ciência e sua divulgação.     :-)



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