Estranhas sombras na Lua - III


Figura 1

Visitando algumas páginas da Web que acusam a NASA de fraudar as viagens à Lua, notei que a falta de conhecimento de seus autores é a causa dos erros elementares na análise das fotos das sombras dos astronautas e de objetos sobre o solo lunar. Vou apresentar aqui alguns desses erros, recorrendo à computação gráfica para simular situações semelhantes que comprovem a banalidade do fenômeno.

O propósito do que estou fazendo é, então, de mostrar que algumas provas usadas contra a NASA não são válidas. É claro que isto, por si só, não decide se a Lua foi visitada ou não. Esta questão é pessoal e deve ser respondida por cada um, em função do que tiver contra e a favor. Só posso garantir que quem utiliza as deformações de sombras como evidência de uma suposta fraude não demonstra ter experiência na observação dos fenômenos naturais, porque os mesmos efeitos aparentemente estranhos que vemos naquelas fotos acontecem o tempo todo ao nosso lado, como qualquer pessoa pode notar se tiver um mínimo de curiosidade.

A primeira foto da NASA mostra dois astronautas ao lado de uma bandeira americana. A sombra do astronauta que vemos mais à direita na imagem parece ser muito maior do que deveria, já que a sombra do outro não é tão grande. Como é possível, se eles tinham a mesma altura e a fonte de luz era o Sol? A explicação está no fato de que os objetos ficam com aparência menor quando estão distantes e maior quando estão próximos, o que vale também para as sombras. Por isso é inútil tentar avaliar, de modo simplista, os tamanhos e as direções de sombras em fotos, porque estas só têm duas dimensões e nos dão uma projeção do mundo em um plano, tirando-nos a profundidade e ocultando-nos a verdadeira medida dos comprimentos e dos ângulos. Figura 2 A análise das sombras pode ser feita, mas por técnicos que entendam de perspectiva e que conheçam as armadilhas visuais que elas podem criar.

Como exemplo do mesmo efeito, veja a figura 1 desta página, mostrando que se pode ter uma sombra com o dobro do comprimento da outra, se forem medidas no plano da foto. As circunstâncias são as mesmas: solo plano e horizontal, toquinhos de mesma altura, uma única fonte de luz no infinito e duas sombras de fato paralelas e de mesmo comprimento. Embora não pareça, a distância entre as extremidades das sombras é igual à distância entre as bases dos toquinhos. Se quem acusa a NASA não acredita nesse fato óbvio, que faça o mesmo teste no mundo real, em vez de ficar apenas repetindo que esse efeito é impossível, sem observar nem pensar, numa tentativa desonesta de convencer os leigos pelo cansaço.

A segunda foto da NASA mostra o efeito de variação no comprimento das sombras devido à inclinação do solo. Uma elevação e uma depressão no terreno estão produzindo sombras realmente diferentes, que também sofrem o efeito de perspectiva. Quanto mais próximo de paralelo aos raios solares o solo for, mais comprida a sombra se torna. Se for paralelo, a sombra ficará imensa; se for perpendicular, a sombra ficará com tamanho mínimo. Vemos, então, que a sombra pode ter um comprimento muito variável em função do ângulo que a superfície de projeção (o solo) formar com os raios de luz (do Sol).

A figura 2 desta página mostra uma superfície que foi empenada de forma que a parte de trás ficasse subindo para a esquerda e a parte da frente ficasse descendo para a esquerda. Temos assim uma elevação para receber a sombra do toquinho do fundo e uma depressão para receber a sombra do toquinho da frente. Figura 3 Como o ângulo entre o solo e os raios de luz varia, as sombras serão diferentes. Esse efeito é normal e ocorre na prática com freqüência. As linhas azuis são as curvas de nível da superfície. Olhe para as sombras do primeiro e do último toquinho e note como a diferença entre seus comprimentos é ainda maior do que a existente entre as sombras da foto da NASA. Não se esqueça de que as irregularidades do solo podem também encurtar uma sombra por colocar parte dela ou toda ela fora do alcance de nossa visão. É o caso de uma sombra que caia dentro de uma cratera profunda.

A terceira foto da NASA mostra uma pedra em primeiro plano e o módulo lunar ao fundo, com sombras muito divergentes, como era de se esperar. Veja a figura 3 desta página e note como é possível apresentar efeitos ainda mais chocantes com vários tocos de madeira colocados em diferentes posições. Neste caso não há divergência de sombras. Elas são paralelas, porque o solo é plano e horizontal. O que ocorre é somente um efeito exagerado de perspectiva, que nos engana muito mais na sombra do objeto de trás, pois ela parece sair para a direita da figura, na horizontal. Mais uma vez, nada de extraordinário ou suspeito, além da imaginação fértil dos que acusam a NASA de fraude.

As outras fotografias sobre sombras que vi nas páginas contra a realidade das viagens à Lua enquadram-se nos exemplos já citados e geram as mesmas dúvidas e as mesmas falácias infundadas. As "provas" que não citam sombras estranhas também apontam erros que não existem, como o tamanho pequeno da Terra, a falta de estrelas no céu lunar, a inexistência de poeira e muitas outras bobagens nascidas do mesmo tipo de ignorância epidêmica que está tomando conta de nosso planeta, disseminando-se pela Internet.

As fotos que vi nas páginas da NASA podem muito bem ser autênticas, pois nada há de estranho nas sombras. Você pode não querer acreditar que as fotos tenham sido feitas na Lua, mas não pode dizer que faz isso porque as sombras se mostram de um modo irreal e suspeito, como dizem os que nada entendem de perspectiva e os que perderam a capacidade de observar a Natureza. Estes abrem espaço na Web para somente criar confusão e enganar os desprevenidos, por ingenuidade, por diversão ou por dinheiro.

Mais uma vez, ficou claro que os erros de interpretação de fatos comuns cometidos pela turma da acusação são primários e vão muito além da simples disposição de sombras. Por isso, não seja um adepto irracional das seitas anárquicas que afirmam que tudo o que aconteceu não aconteceu e que tudo o que está certo está errado. Livre-se delas, leia bons livros científicos e habitue-se a pensar muito, antes de aceitar o que pode ser uma mentira.



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