Carta à vereadora Jerônima Carlesso


Uberlândia, 25 de abril de 2005


Prezada amiga
Jerônima Carlesso


treze anos venho solicitando ao Poder Público que respeite o céu noturno pelo patrimônio natural que ele representa. O problema, que tem se agravado cada vez mais, é o da iluminação dispersiva, principalmente daquela produzida por lâmpadas a vapor de sódio, de cor amarela. O céu noturno está se tornando amarelo como elas e inviabilizando os trabalhos de pesquisa e divulgação científica realizados pelo único observatório astronômico ativo do Triângulo Mineiro, localizado no bairro Cidade Jardim, o qual vem recebendo a visita de estudantes de diversas instituições há quase nove anos.

À primeira vista, reclamar da iluminação noturna que todos desejam pode parecer uma atitude ilógica, mas o problema não está na iluminação das ruas. O que ocorre é que parte da luz sai das lâmpadas diretamente para cima, causando perturbações no meio ambiente. Esse espalhamento desnecessário de luz é um evidente desperdício, pago por todos nós. Afinal de contas, a luz que sobe não ilumina o chão nem aumenta a segurança de ninguém. Ela é jogada fora, em direção ao espaço sideral, junto com nosso dinheiro.

Dois modelos básicos de luminárias estão sendo utilizados na iluminação pública. Um deles, adequado, vem sendo instalado com uma inclinação que causa perda de luz. O outro modelo possui um globo transparente, responsável pelo maior prejuízo às atividades do Observatório, principalmente se instalado nas proximidades.

Durante a visita de um secretário de serviços urbanos, convidado para conhecer meu trabalho, me foi prometido que o modelo mais dispersivo não seria utilizado. Entretanto, pouco tempo depois, a rua transversal mais próxima teve suas luminárias antigas substituídas por ele. Agora vejo outras ruas recebendo as mesmas luminárias com globos e lâmpadas amarelas de brilho extremamente forte, visíveis à distância. Nem quero pensar no que ocorrerá se elas forem instaladas em minha rua.

Alguém precisa resolver esse problema, porque não é possível que, depois de tanto tempo de campanha contra a poluição luminosa, eu seja obrigado a encerrar as atividades de um observatório que, embora seja particular, faz um trabalho de utilidade pública que caberia à Prefeitura.

Sendo assim, solicito sua atenção para o caso. Estarei à disposição para recebê-la em minha casa quando possível, a fim de tratar desta e de outras propostas para a melhoria da qualidade de vida em nossa ainda querida cidade.


Atenciosamente,


Roberto F. Silvestre
http://www.silvestre.eng.br/astronomia/



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