O parecer técnico da UFU


Universidade Federal de Uberlândia
Centro de Ciências Exatas e Tecnologia
Departamento de Engenharia Elétrica


Assunto: POLUIÇÃO LUMINOSA


A luz ou feixe luminoso são ondas eletromagnéticas cujo espectro visível vai desde a radiação ultravioleta até o infravermelho. O feixe luminoso é irradiado em todas as direções a partir de uma fonte puntual. Todavia, pode-se direcionar o feixe luminoso para locais determinados utilizando refletores específicos para cada finalidade desejada. Quando a luz incide sobre uma superfície qualquer, parte dessa energia radiante é absorvida e a outra parte é refletida em intensidade e espectro que são funções da natureza e propriedades desta, ou melhor, toda e qualquer superfície irá refletir em maior ou menor quantidade de luz, dependendo da cor desta.

A iluminação artificial é comumente gerada de duas formas, por fontes incandescentes ou por sistemas de descargas elétricas em ambientes gasosos, nas quais o tipo de gás é submetido a um processo físico-químico onde irá emitir um espectro de luz visível com características que permitirão melhor reprodução de cores. Um aparato muito importante na iluminação artificial é a luminária, que de acordo com as características do local, ambiente, objetivos de iluminação, exigência de acuidade visual é especificada de modo a melhor atender as necessidades requeridas. As luminárias podem ser empregadas juntamente com as respectivas lâmpadas para propiciar uma iluminação em qualquer local das seguintes formas:

Iluminação Direta: quando o feixe luminoso é direcionado diretamente sobre a área que se pretende iluminar, aplicado em locais onde a acuidade visual é muito exigida, como por exemplo, serviços manuais de alta precisão, ou de peças muito pequenas;

Iluminação Indireta: quando o feixe luminoso é direcionado a um plano e por reflexão é dirigido à área que se pretende iluminar, aplicado onde o efeito de ofuscamento pode provocar acidentes de trabalho, ou mesmo condições de salubridade compatível com a acuidade visual exigida;

Iluminação Difusa: nesse caso, o feixe luminoso é direcionado a uma grande área, formando um ângulo sólido e fornecendo iluminação em planos horizontais e verticais, aplicado em iluminação de interiores e exteriores onde haja necessidade de um amplo campo visual para garantir condições de segurança de propriedades, pessoas, ou ambos.

O detalhamento técnico que determina a aplicação de cada luminária é fornecido pelo fabricante, sob a forma de dados para especificação da mesma, onde os seguintes fatores são levado em consideração, tais como: Nível de iluminação, designado por normas, citamos a NBR5413, - Nível de Iluminação, tipo de lâmpada e área a ser iluminada. Para isso são levadas em conta características das luminárias tais como curvas "isolux" ou curvas "Isolumens". A luminária é uma peça fundamental para um sistema de iluminação que atenda aos requisitos necessários aos ambientes. O projetista de iluminação pode especificar adequadamente uma luminária mais apropriada para atender aos objetivos da iluminação pretendida, de conformidade com as características técnicas e econômicas de quem a requer.

Pode-se classificar o tipo de iluminação com relação aos objetivos que se pretende atingir, em dois grandes grupos: Iluminação de interiores e de exteriores. A iluminação de interiores é hoje uma necessidade incontestável da sociedade, quer seja para propiciar maior conforto, segurança, saúde, condições de trabalho com conforto, qualidade, enfim vários outros benefícios comuns à sociedade atual. Com relação a esse tipo de iluminação existem normas técnicas que determinam níveis de iluminação em conformidade com a acuidade visual, assim como condições de aeração, condicionamento dos locais públicos, ou não. A iluminação de exteriores tem, nos dias atuais, os objetivos dos mais diversos possíveis, tais como: segurança de locais externos, vias públicas, iluminação decorativa de fachadas e de edifícios, luminosos de empresas comerciais, quadras esportivas abertas, e sinalização de construções elevadas, tais como edifícios, torres, etc..

A iluminação das vias públicas é uma das mais complexas de ser projetada, pois a ela está associada a questão de segurança, seja de veículos automotores, ou não, condutores destes e pedestres, as quais, por sua vez estão relacionadas às condições ambientais naturais, como chuvas, névoa seca, neblina, e condições artificiais como poluição industrial, fumaça, pó, etc.. Para cada situação há procedimentos técnicos específicos. As luminárias para a iluminação de exteriores, principalmente para as vias públicas, geralmente são do tipo difusa, para proporcionar um sistema de feixe luminoso adequado para atingir a maior área possível, em um plano horizontal e vertical, garantindo um campo visual seguro para os transeuntes da via pública. Salientamos que em função da densidade de população, quantidade de tráfego, alturas maiores de campo visual são necessárias, e maior homogeneidade de iluminação no plano horizontal irá requerer altura da fonte de luz mais elevada, e consequentemente a luminária terá que possuir características técnicas que sejam capazes de espalhar cada vez mais o feixe luminoso. Nestas circunstâncias, não há como evitar emissão de luz em um ângulo sólido mais obtuso, e ainda veremos reflexões da luz nas superfícies metálicas dos veículos, das fachadas dos edifícios. Ainda salientamos que o ar pode operar como um prisma, sendo capaz de polarizar o feixe luminoso, onde haverá locais que esse feixe não seja visível e em outras regiões o passe a ser. O efeito da poluição ambiental, ou seja a presença de partículas minúsculas podem provocar desvios desse feixe, produzindo maior difusão do feixe luminoso.(exemplo do uso farol baixo do veículo sob neblina).

É importante salientar que o comprometimento da visibilidade do céu noturno não é causado somente pelas luminárias das vias públicas, mas também e principalmente por outros fatores comuns aos grandes centros urbanos, como luminosos comerciais, campo de futebol, iluminação de fachadas de prédios, e principalmente a iluminação de segurança das construções elevadas.

O fato de uma pequena parcela do feixe luminoso estar dirigido acima do plano horizontal significar desperdício de energia radiante, é muito relativo, dependendo de seu objetivo isso deve ocorrer, e seu efeito é muito menor que gerado pelas reflexões. Observamos que há situações em que as luminárias não são especificadas tecnicamente corretas, isso se deve às condições econômicas de quem a contrata. Questiona-se o desperdício de energia, observamos que essa perda, para ser evitada seria necessário colocar fontes de luz muito próximas, e isso levaria a via pública algo totalmente fora de estética decorativa, e o consumo de energia elétrica seria significativamente maior!

Salientamos que a opção da luminária adequada para as vias públicas, bem como a sua distribuição ao longo do leito, requer um estudo bem profundo e com detalhamento técnico sobre o assunto, e, por vezes, nem sempre um aparato mais eficiente apresenta-se mais conveniente, quer seja por questões de fluxo luminoso ou por questões econômicas. Sob esse aspecto as empresas concessionárias de energia elétrica, responsáveis pela manutenção da iluminação das vias públicas, levam em conta os equipamentos disponíveis no mercado observando o custo de consumo de energia elétrica, a facilidade e a freqüência de manutenção. Seria muito interessante um parecer técnico por parte dessas empresas.

Quanto à visibilidade do céu noturno, de pouco adiantará corrigir apenas as luminárias do sistema de iluminação pública, visto que elas contribuem com apenas uma parcela na conjuntura total do problema. Neste sentido, uma legislação municipal mais exigente em relação à iluminação de exteriores deverá definir áreas onde se deva preservar a visibilidade do céu noturno bem como dar um maior significado à expressão poluição luminosa. Também devemos atentar para a iluminação de interior contribuindo para a iluminação exterior.


Uberlândia, 13 de novembro de 1998


Prof. Décio Bispo
Prof. Keide Matumoto
Prof. Marcelo Lynce Ribeiro Chaves
Noélio de Oliveira Dantas (Departamento de Ciências Físicas)



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