A quinta grandeza do Sol


Uma das coisas que "aprendemos" sobre Astronomia na escola é que o Sol é uma estrela de quinta grandeza. Entretanto, essa afirmação tão repetida durante décadas com entusiasmo por professores e alunos, como se fosse uma verdade inconstestável e de enorme importância científica, é apenas uma das inúmeras frases sem sentido que memorizamos e carregamos até o fim da vida como se fosse conhecimento.

Embora exista uma verdade embutida na "quinta grandeza" do Sol, são poucas as pessoas que a conhecem. Acredito que a imensa maioria dos professores não tenha idéia do significado da frase ou a entenda de modo errado. Mas ela está nos nossos livros escolares, colocada lá por pessoas que a viram em livros publicados anteriormente, escritos por outras pessoas que a copiaram de livros ainda mais antigos. Se continuarmos na busca pela fonte do problema, pode ser que encontremos um primeiro livro no qual a palavra "magnitude", do Inglês, foi traduzida para o Português como "grandeza", causando toda a confusão.

Conversando com alunos e professores, notei que a palavra "grandeza" é entendida por muitos como uma referência a tamanho (diâmetro, volume, etc.). Por isso, não são poucas as pessoas imaginando que existam somente quatro estrelas maiores (ou menores) do que o Sol, o que não é verdade. Não sei se a situação seria diferente se a palavra escolhida fosse mesmo "magnitude", em vez de "grandeza", mas, neste caso, pelo menos teríamos adotado o termo astronômico correto no nosso idioma.

A "grandeza" dos livros é de fato a magnitude absoluta do Sol, ou seja, o brilho verdadeiro da nossa estrela, nada tendo a ver com seu tamanho. Ainda assim, uma magnitude absoluta igual a 5 não quer dizer que o Sol seja a quinta estrela em ordem de brilho, porque a escala de magnitudes é contínua, logarítmica e abrange também valores negativos. Portanto, essa informação não deveria estar solta nos livros sem uma explicação adicional. Como a explicação é difícil de ser compreendida por uma criança, melhor mesmo seria nem se tocar no assunto da tal "grandeza" do Sol.

Este e muitos outros temas que tenho visto em discussão nas salas de aula têm me mostrado que algumas pessoas se contentam em memorizar frases, mesmo que não façam nenhum sentido. Por isso, algumas dessas "pérolas" são repetidas nas escolas, ano após ano, como fatos que ninguém ousa questionar. Elas são colocadas nas provas pelos alunos e geram boas notas para eles, mas nada significam para ninguém. E o pior de tudo é que os absurdos como esse jamais vão aparecer nas maravilhosas estatísticas da Educação.

Tocar nesse assunto em palestras para professores tem sido difícil, porque há quem se revolte diante da constatação de que algumas coisas estão sendo ensinadas de modo errado. Mas há também os que ficam revoltados comigo, por eu ter estragado a festa. Estes, ao que me parece, preferem viver iludidos por um sonho agradável do que encarar uma realidade que, de certo modo, é bastante dolorosa.

A "grandeza" do Sol é apenas uma minúscula faceta de um enorme problema que precisa ser enfrentado com coragem, no menor tempo possível, porque as crianças estão sendo por demais prejudicadas.


Roberto F. Silvestre
25 de junho de 2002



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