Dentro da Terra não há muitos lugares onde possamos permanecer. A força da gravidade tende a aproximar ao máximo as partículas que compõem nosso planeta, resultando em uma esfera compacta de matéria em sua parte interna, densa e quente nas profundezas. Olhe bem para o que sai dos vulcões ativos e você perceberá o que existe no interior do nosso planeta.
Se estivéssemos presos dentro de uma enorme parte oca da Terra, o Universo inteiro deveria estar lá também, pois temos visão direta dele à noite. Não deveríamos ver a linha do horizonte, aquele lugar onde o chão e o céu parecem se encontrar. O solo em que pisamos deveria curvar-se para cima e passar sobre nós. Para qualquer lugar que olhássemos, veríamos alguma outra região do mundo e seus habitantes. Os problemas das telecomunicações estariam resolvidos, pois não mais precisaríamos de satélites artificiais. Se fosse dia, nunca haveria noite, já que seria impossível esconder o Sol. Se a Lua pudesse ser vista, teria uma fase diferente para cada local de onde a olhássemos. Nunca teríamos eclipses da Lua, enquanto os do Sol estariam eternamente ocorrendo. E por aí vai. Conclusão: modelo errado.
Nós vivemos na superfície externa da Terra, geralmente com os pés no chão, mas muitas crianças têm uma imagem errada disso. Conheci diversos educadores das séries iniciais e alguns alunos de curso superior, até mesmo de Geografia, que também tinham aquela visão errada. Li um livro, "A Terra Oca", no qual o autor afirma e "prova" que há civilizações e um sol central no interior oco do nosso planeta. Diz ele que existem passagens nos pólos, buracos enormes, que nos levam ao lado de dentro. Isto é fisicamente impossível, mas muitas pessoas continuam acreditando, mesmo depois de verem as fotos da Terra tomadas do espaço. Mas, se você acha isso estranho, pesquise sobre a International Flat Earth Research Society (Sociedade Internacional de Pesquisa da Terra Plana), que também acusa a NASA de enganar o mundo.
De uma certa forma, estamos um pouco dentro da Terra, porque nos encontramos mergulhados em sua atmosfera, que também faz parte do Planeta. Dependemos dela para viver, o que parece ser ignorado por uma minoria que insiste em envenená-la por motivos egoístas.
Pelo que sabemos até agora, a Terra tem um único satélite natural, que é a Lua. Algumas pessoas pensam que os quatro aspectos principais da Lua, mostrados em cada lunação, nas tradicionais fases, são quatro objetos cósmicos distintos, que aparecem um por vez. Nesta idéia errada, portanto, a Lua Nova, o Quarto Crescente, a Lua Cheia e o Quarto Minguante seriam as quatro luas que orbitam nosso planeta.
Houve, há muitos anos, a divulgação de um artigo apontando a possibilidade de encontrarmos outros satélites naturais da Terra nos pontos denominados Lagrangeanos. São regiões estáveis, na mesma órbita da Lua, mas deslocadas de 60 graus para a frente e para trás. Na verdade, como não vemos nada lá, essas luas deveriam ser muito pequenas. Até hoje não se encontrou nada semelhante, mas a idéia circulou na mídia como se fosse fato comprovado.
Não é bem assim. A Terra gira em torno de si mesma e faz com que a linha do Equador tenda a se deslocar para fora. Como a maior parte do nosso planeta está em estado de fusão, ele se acomoda na forma aproximada de um elipsóide. Se ele parasse de girar, sua forma seria mais próxima de uma esfera.
Mas o achatamento produzido pela rotação é geral. Ele ocorre na Terra toda, não somente nos pólos. O que é entendido como achatamento polar nas escolas, em muitos casos, é uma Terra esférica com cortes planos nos pólos. Em outros casos, imagina-se um elipsóide exageradamente achatado.
Imagine que você possa atravessar a Terra de um lado a outro, numa linha reta, passando sempre pelo centro, para medir o seu "diâmetro". Se você fizer isso a partir do Equador, vai encontrar 12756 km. Se fizer a partir dos pólos, vai encontrar 12713 km. Esses são, respectivamente, os valores máximo e mínimo daquela medida. A diferença entre eles dá apenas 43 km, que nem pode ser percebida a olho nu, se observarmos a Terra a partir do espaço. Portanto, o achatamento terrestre é relativamente pequeno. A montanha mais alta e o oceano mais fundo estão, nos 9 km para cima e nos 11 km para baixo, que também são muito pequenos, quando os comparamos com o tamanho do nosso planeta.
Uma pesquisa indicou uma deformação extra na Terra, além da forma bojuda causada pela rotação em torno de seu eixo. Esse desvio irregular da superfície é causado pela variação também irregular da densidade terrestre, que faz a gravidade mudar de um lugar para outro. Um satélite mediu esses valores e nos fez concluir que um hemisfério está mais alto que a superfície do elipsóide, enquanto o outro está mais baixo. Isto foi à mídia na forma de um desenho que mostrava a Terra se assemelhando a uma pêra. De fato, o gráfico multiplicava aquela deformação por um grande fator, para que fosse visível, já que o erro é de apenas alguns metros. O resultado disso é que muita gente ficou pensando que a Terra tivesse aquela forma horrorosa, mostrada numa escala que a deformava.
O caso da pêra já foi explicado no item 3. Agora, veja bem o que significa o termo geóide, que não é o nome de um sólido geométrico. O termo "geo" significa Terra; "oide" significa forma. Então, "geóide" significa "forma da Terra". Portanto, ao que me parece, se alguém diz que a Terra tem a forma de um geóide, está dizendo que a Terra tem a forma que a Terra tem, o que é o mesmo que dizer nada.
Não são poucas as pessoas que desconhecem o que de fato significa "para cima" e "para baixo". A razão disso pode estar em imagens mentais fortes, ligadas a um mundo plano. Não se costuma dizer, por exemplo, que o Céu, aquele da Bíblia, fica lá em cima (apontando com o dedo)? Provavelmente, quando alguém diz isso, não está considerando uma Terra redonda.
No Universo como um todo não há direções especiais. A uma distância razoável dos corpos celestes, que nos puxam com sua gravidade, não existem coisas como "para cima" e "para baixo". Esses termos só fazem sentido quando estamos na superfície de um astro, como a Terra. No Universo não existe um grande chão para onde as coisas caem. Se largarmos um objeto no espaço cósmico, longe dos astros, ele ficará flutuando, já que não existe uma força para tirá-lo de lá.
É muito importante compreender que, na Terra, "para cima" significa em direção ao espaço, afastando-se de seu centro, enquanto "para baixo" significa em direção ao centro do nosso planeta. Dentro dessa idéia, todos os lugares da superfície terrestre são gravitacionalmente equivalentes. Assim, de qualquer lugar do solo que se olhe, o céu (astronômico) estará acima e o chão estará abaixo do observador, significando que a linha vertical é uma coisa relativa a cada local. Não existe um "para cima" e um "para baixo" absolutos. Cada pessoa tem o seu "para cima" e o seu "para baixo", porque sua vertical é a linha que a liga ao centro da Terra.
Considerando tudo o que foi dito, podemos concluir que, nesse sentido, os pólos não são diferentes de qualquer outro ponto da superfície da Terra, porque, em cada um deles, "para cima" será a direção do espaço, fugindo do centro da Terra, e "para baixo" será a direção do chão, aproximando-se do centro da Terra. Portanto, é errado dizer que o Pólo Norte está no lado de cima da Terra e o Pólo Sul está no lado de baixo dela. As crianças das primeiras séries escolares já trazem esse modelo errado com elas. Ele não deveria ser ainda mais reforçado nas escolas com frases como a deste item 5.
Imagine uma pessoa localizada numa cidade da linha do Equador. Se ela desejar ir acima do Equador ela vai precisar de um foguete que a leve verticamente em direção ao espaço. Se ela desejar ficar abaixo do Equador, vai precisar de uma pá para cavar o solo em direção ao centro da Terra.
Quando uma pessoa caminha do Equador para o Pólo Norte, ela não está subindo. Quando ela caminha do Equador para o Pólo Sul, ela não está descendo. O Hemisfério Norte fica ao norte do Equador, não acima dele. O Hemisfério Sul fica ao sul do Equador, não abaixo dele.
Uma das perguntas que me fizeram na primeira palestra para professores foi sobre o sentido da rotação da Terra. Queriam saber se ele é horário ou anti-horário. Respondi que não é nenhum deles. Na verdade, eu sabia que se desse alguma resposta simples, ela seria apenas memorizada e repetida sem o devido entendimento. Se, por exemplo, eu dissesse que é no sentido horário, os coordenadores de ensino passariam essa informação para os professores, que passariam para os alunos, que "acertariam" a questão nas provas. Mas, pedindo-se a qualquer um deles para mostrar a rotação da Terra num modelo de globo terrestre, ninguém saberia para qual lado girá-lo. Aquela informação seria, então, inútil. Por isso não dei a resposta e mostrei que há uma grande diferença entre saber e pensar que se sabe.
Em primeiro lugar é preciso tirar a dúvida lá fora, na prática, observando o céu noturno. Quando olhamos para o Leste, percebemos o movimento lento de subida das estrelas. No Oeste, vemos que elas descem em direção ao horizonte. Sabendo-se que o movimento real das estrelas não pode ser percebido em todo o tempo de uma vida humana, a conclusão é que o que se vê é um movimento aparente, causado pela rotação da Terra. Portanto, se as estrelas parecem passar no céu do Leste para o Oeste, é porque a Terra gira no sentido contrário, de Oeste para Leste.
Mas, uma vez que já descobrimos o sentido real da rotação da Terra, seria ele horário ou anti-horário? A resposta é que depende de onde se olha. Olhando para o nosso planeta de um ponto situado diretamente acima do Pólo Sul, ele é horário. Olhando de um ponto diretamente acima do Pólo Norte, ele é anti-horário. Por isso aquela informação solta não tem significado algum.
É interessante mencionar que podemos ver, na TV, várias propagandas e aberturas de Telejornais, mostrando lindos modelos da Terra feitos com os modernos recursos da computação gráfica, alguns girando para o Leste e outros girando para o Oeste.
O movimento das nuvens é apenas a prova de que existe vento. Podemos ver nuvens paradas ou se movimentando em qualquer direção e sentido. Elas nada têm a ver com o sentido de rotação da Terra, que ocorre sempre de Oeste para Leste.
Qualquer pessoa que tenha os pés sobre a superfície da Terra estará de cabeça para cima. Mas, quando as crianças olham para uma figura que mostra o nosso planeta com seus habitantes situados em toda a volta do globo, elas não conseguem compreender como o sujeito que está embaixo da figura não está também embaixo da Terra. Elas têm dificuldade para compreender como ele não despenca no espaço sideral.
Esta não é uma questão fácil, porque aquela idéia errada do que seja "para cima" e "para baixo" é muito forte, já que vem da própria experiência da criança. A saída pode ser a explicação de que a Terra é que puxa as pessoas e que "para baixo" significa em direção ao centro da Terra. Nas palestras para crianças, eu costumo desenhar pedras no espaço, primeiro isoladas, muito longe da Terra, depois em volta dela. Em cada caso, pergunto para onde elas vão cair quando largadas. Isso costuma ajudar.
A força gravitacional no centro da Terra é zero. Se fosse possível existir uma sala oca naquele ponto central do nosso planeta, uma pessoa flutuaria nela como se fosse um astronauta no espaço. A razão é que a pessoa seria atraída pelas partículas terrestres em todas as direções possíveis. Para cada partícula que atrai a pessoa num sentido, há sempre uma outra que a atrai no sentido oposto, com uma força de mesma intensidade. A resultante de todas essas forças é nula.
Quando estamos fora da Terra, em sua superfície, todo o planeta está situado para um mesmo lado. Assim, todas as forças nos puxam também para lá. A partir do momento em que penetramos no planeta, uma parte dele fica para trás de nós e começa a nos puxar no sentido oposto, diminuindo nosso peso. Ao chegarmos ao centro, atingiremos o ponto de equilíbrio das forças e não teremos mais peso.