O balanço do eixo da Terra


Figura 1: Sol poente no Hemisfério Norte.

As especulações sobre uma iminente inclinação do eixo de rotação da Terra seriam capazes de se transformar em realidade? Estariam de fato ocorrendo grandes diferenças na posição aparente do Sol, sugerindo que a variação da inclinação do eixo terrestre seja um fenômeno físico real? Seriam as posições do Sol nascente e poente bons parâmetros para avaliar a suposta variação no eixo da Terra? Como podemos fazer verificações práticas simples para nos tirar essas dúvidas?

A Terra tem um formato aproximadamente esférico, com uma grande massa. Ela possui um movimento de rotação que contém uma parte da energia adquirida durante os processos que envolveram sua formação. Então, nenhuma força está fazendo a Terra girar. Ela gira porque já iniciou sua existência com esse movimento. A energia de rotação não se perde, mas pode ser transformada. Sabe-se que uma fração da energia de rotação de nosso planeta é transferida lentamente para a Lua por causa das marés. As conseqüências disso são o alongamento do dia e o distanciamento da Lua, muito sutis.

Quando um objeto realiza uma rotação, ele adquire uma estabilidade axial, ou seja, seu eixo assume uma direção espacial que tende a se manter. Por isso, mudar a orientação do eixo terrestre não é tarefa fácil, já que exigiria uma quantidade de energia descomunal. Além disso, uma força realizada diretamente sobre o eixo não o inclina do modo esperado. O eixo forçado a se inclinar reage de uma forma surpreendente, tentando preservar sua orientação espacial anterior. O resultado é conhecido pelo nome de precessão e ocorre com a Terra, em função da atração combinada do Sol e da Lua sobre o bojo equatorial de nosso planeta, a qual, ainda que seja grande, não consegue mudar o ângulo existente entre o eixo terrestre e o plano orbital.

A chegada de um suposto planeta invasor no Sistema Solar traria uma força gravitacional extra a atuar sobre nós. O resultado poderia ser uma influência sobre o movimento de precessão, não uma mudança direta sobre a inclinação axial nem uma variação sensível da velocidade de rotação da Terra. Ainda assim, para que qualquer efeito físico semelhante possa ser notado, o astro deve se aproximar muito, a ponto de sua aparência rivalizar com a do Sol ou da Lua. Então, por que dizem que os efeitos do astro (Hercólubus, Planeta X, etc.) já podem ser percebidos facilmente? Se ninguém está vendo um planeta novo na vizinhança, como ele pode estar influenciando o eixo da Terra de um modo que nem mesmo o Sol e a Lua juntos têm condições de fazer? Se esse novo astro estivesse na parte interna do Sistema Solar, como alguns também dizem, ele já teria causado perturbações orbitais em Mercúrio e Vênus, pelo menos. Então, como explicar a posição em que esses planetas se encontram hoje, que é exatamente aquela prevista pelos cálculos astronômicos?

Se o eixo da Terra tivesse sua inclinação alterada, os pólos celestes apareceriam deslocados. Todo o céu noturno teria sua aparência modificada. Durante o dia, o Sol, em seu movimento aparente, percorreria o céu do lado leste ao lado oeste por um caminho diferente do previsto. Isto seria facilmente perceptível, principalmente para astrônomos profissionais e amadores, experientes em suas atividades práticas de observação. Porém, embora nada disso tenha sido percebido pelas pessoas que lidam com o céu profissionalmente ou por paixão, outras que não o fazem estão dizendo que o Sol tem apresentado uma variação angular de vários graus em sua posição normal, sem que os especialistas percebam. Em quem devemos acreditar?

Como a explicação óbvia da falta de experiência dos leigos pode descartar as provas da chegada do astro intruso no Sistema Solar, já foi dito também que os cientistas escondem todas as informações do público para não causar pânico. Por ser muito fácil de realizar verificações práticas necessárias à detecção da variação de inclinação do eixo da Terra, as quais estão ao alcance de quase qualquer um, disseram que o balanço do eixo da Terra, embora intenso, é de curta duração e que por isso os cientistas não o percebem. Essa oscilação seria como um sinal de que algo vai muito mal lá no espaço. Dizem que acontece, é intensa, mas logo depois tudo volta exatamente ao normal, só dando mesmo tempo para que os leigos percebam, nunca os especialistas. Diante de tamanha confusão, na qual qualquer raciocínio lógico apresentado pelos astrônomos é rapidamente rebatido com uma alegação aleatória esdrúxula insustentável, é melhor que cada um faça sua própria verificação e trate de convencer a si mesmo.

Figura 2: Fotografia do Pólo Celeste Sul.

Neófitos estão observando a posição do Sol e informando variações angulares marcantes. Em alguns casos, apontam uma posição para o Sol poente totalmente diferente daquela prevista pelas publicações oficiais ou por programas simuladores do céu, que são de domínio público. O que pode ter acontecido? Será que foi o eixo da Terra que balançou ou foi o principiante que se enganou? A figura 1 mostra o movimento aparente do Sol poente no Hemisfério Norte em um local distante da Linha do Equador (grande latitude). Note como há uma forte influência do relevo local sobre a posição onde o centro do Sol cruza o horizonte. Com este exemplo, percebe-se que uma pequena elevação no relevo pode causar uma grande diferença entre a posição calculada e a posição observada para o Sol poente. Neste caso, o Sol atravessa o horizonte muito à esquerda da posição calculada para o horizonte teórico. Se houver uma depressão no terreno, o horizonte teórico fica mais elevado que o horizonte natural e o Sol se põe mais à direita da posição esperada. No Hemisfério Sul a situação se inverte porque a trajetória do Sol poente é a de descer para a esquerda. Portanto, em qualquer caso, fica evidente que o horizonte geográfico não serve como parâmetro para avaliação da posição do Sol e muito menos para se deduzir, a partir daí, que o eixo da Terra sofreu uma inclinação súbita temporária que somente meia dúzia de curiosos consegue notar.

Um outro erro possível na avaliação do azimute do Sol no horizonte é o uso da bússola, porque ela dificilmente aponta para o Norte (o verdadeiro, geográfico). Existem lugares onde ela aponta até mesmo para o Sul. O que a bússola faz é se orientar pelo magnetismo terrestre, que não está ligado aos Pontos Cardeais. Somente em alguns locais muito especiais do mundo é que o erro da bússola se anula. Se alguém não souber disso, pode encontrar uma diferença muito grande na posição do Sol, que será falsa. O uso da bússola nas proximidades de objetos magnéticos também pode causar falsos resultados.

Quem quiser verificar a posição do Sol deve escolher horários em que ele está mais alto, longe do horizonte, para reduzir o efeito causado pela refração atmosférica. Se o simulador do céu levar em conta também a refração, ela deixa de ser um problema. Neste caso, a sombra de uma haste bem aprumada vai indicar o azimute e a altura do Sol, que devem ser comparados com os valores teóricos fornecidos pelo computador. Somente assim será possível saber se o Sol está ou não onde deveria.

Fotografar os pólos celestes é simples (figura 2) e pode mostrar até mesmo pequenas mudanças na orientação do eixo. A razão é que os pólos celestes são pontos do céu que não se deslocam pela rotação da Terra, já que o eixo passa por eles. Qualquer variação importante na orientação do eixo terrestre faria deslocar os pólos celestes relativamente às estrelas, consideradas fixas. Então, mãos à obra: fotografe seu pólo celeste elevado e faça comparações com os mapas estelares. No caso de qualquer diferença, as fotos serão a prova.

Antes de acreditar que um planeta que ninguém viu esteja causando grandes oscilações no eixo da Terra, realize seus próprios testes controlados. Não tire conclusões precipitadas tomando como base as observações de pessoas pouco habituadas ao rigor dos experimentos científicos.



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